Nosso Patrono


CLEMENTE MIGUEL DA CUNHA FERREIRA

Clemente Ferreira
O Patrono da Tisiologia Brasileira nasceu em Resende, uma cidade da Província do Rio de Janeiro. Resende foi elevada à Vila em 1801 e à cidade em 1848. Seu pai José da Cunha Ferreira, português, e sua mãe Maria Neves da Cunha Ferreira, brasileira de Resende, lhe deram, na pia batismal, o nome de Clemente Miguel da Cunha Ferreira.

Muito cedo aprendeu, com o pai, não só as primeiras letras, mas francês, inglês, aritmética e um pouco de latim. Quando criança trabalhou na roça e aos 13 anos foi para o Rio de Janeiro estudar no Colégio Episcopal São Pedro de Alcântara, os preparatórios para o curso médico.

Em 28 de dezembro de 1880, ao receber o grau de doutor em medicina, com 23 anos, teve a honra de ser o orador da turma e de ser ouvido pelo Imperador D. Pedro II que assistiu a solenidade de colação. Sua tese intitulada “Phtisica Pulmonar” escrita dois anos antes da descoberta do bacilo por Robert Koch, já evidenciava a paixão pela luta que abraçaria até o último de seus dias.

Em Resende, seu torrão natal, iniciou sua carreira profissional como médico da Santa Casa de Misericórdia, sem remuneração, e, para sua subsistência atirou-se à vida fatigante de clinico da roça, ganhando dez mil réis por légua e quatro mil réis por consulta. Durante cinco anos dedicou-se com energia incomparável a este árduo trabalho, sempre estudando e colaborando em diversas revistas médicas européias. Surpreendeu-se, no inicio da carreira, ao tornar-se membro correspondente da Sociedade Terapêutica de Paris. Este foi o primeiro de uma serie enorme de títulos que colecionou durante sua longa e operosa vida.

Em janeiro de 1883 casou-se com a senhorita Anália Pinheiro da Silva, cunhada de seu irmão, que lhe deu dois filhos e uma filha e foi sua companheira durante 56 anos.  Também neste ano publicou um ensaio pioneiro sobre o clima de Campos do Jordão no tratamento da tuberculose.

Em 1887 partiu para o Rio de Janeiro em busca de novos horizontes. Dirigiu o Serviço de Pediatria do Dr. Moncorvo Pai, na Policlínica do Rio, durante seis anos.

Em 1889, participou da Comissão da Imprensa Fluminense, através de seus serviços gratuitos, para prestar cooperação na pavorosa epidemia de febre amarela que devastou Campinas. A tarefa foi árdua e ao se encerrar a campanha, o povo campineiro mandou cunhar uma medalha de ouro para homenageá-lo e o Imperador D. Pedro II galardoou-o com a comenda da Ordem da Rosa.

Em 1890, a Academial Nacional de Medicina lhe conferiu o titulo de membro titular e dois anos depois discursava Clemente Ferreira, na sessão magna, como orador oficial, denunciando os erros dos governantes em relação aos problemas médicos.

Em 1893, publicou no "Bulletin de Therapeutique", o seu primeiro estudo sobre a tuberculose infantil. Este foi um dos mais de 200 trabalhos científicos publicados em revistas médicas nacionais e estrangeiras.

Após ter sido nomeado Inspetor Sanitário, em 1896, fixou residência em São Paulo e combateu, durante quatro anos, a febre amarela que ainda remanescia em diversas cidades do interior. 

Em 17 de julho de 1899 fundou a Associação Paulista de Sanatórios Populares para tuberculosos (depois chamada de Liga Paulista contra a Tuberculose) tornando-se seu presidente perpétuo. A partir de então, encabeçou uma ferrenha luta contra a peste branca que sorrateira, devastadora e insidiosa dizimava a população paulistana.

Em 1902 criou a revista “Defesa contra a Tísica”. Através dela, conscientizou a população e as autoridades sanitárias sobre a magnitude da tuberculose e a necessidade imperiosa do governo assumir a luta.

Em 10 de julho de 1904, com um grupo de colaboradores e auxiliado por uma subvenção municipal conseguiu abrir em São Paulo o primeiro dispensário para o tratamento e profilaxia da tuberculose. 

Foi convidado pelo Diretor do Serviço Sanitário de São Paulo, Dr. Emilio Ribas, em 1905, para dirigir o Serviço de Proteção a Primeira Infância. Cargo que desempenhou por largos anos.

Viajou, juntamente com Adolpho Lutz, à Paris a fim de participar do Congresso Internacional de Tuberculose, em outubro de 1905, representando o Estado de São Paulo. Durante cinco meses permaneceu na Europa estudando as organizações de luta contra a peste branca na França, Bélgica, Alemanha e Portugal. Ao retornar publicou relatório completo dos estudos feitos.

Em 1908 sensibilizou um grupo de damas paulistas para fundarem a “Obra de Preservação dos Filhos de Tuberculosos Pobres”. Contando com a tenacidade da Viscondessa da Cunha Bueno a referida instituição inaugurou, em 1913, na cidade de Bragança Paulista, o primeiro Sanatório de Preservação Infantil.

Clemente Ferreira participou, em 1912, do Congresso Internacional contra Tuberculose, em Roma, recebendo vários prêmios por sua atuação pessoal como Presidente da Liga Paulista e Diretor do Dispensário. Participou, ainda, de Congressos de Tuberculose na Argentina, Uruguai e em várias capitais do Brasil até o fim de sua vida.

Depois de uma luta hercúlea inaugurou, em 1913, à Rua da Consolação, a nova sede do Dispensário com o nome de “Dispensário-Modelo Clemente Ferreira” e fez dele o principal armamento de luta contra a tuberculose até 1934, quando foi doado, pela Liga Paulista, ao governo de São Paulo com todo o mobiliário e o fim expresso de ser usado para o tratamento dos tuberculosos pobres.

Em 1927 iniciou a “Campanha do Selo” encabeçando, durante vários anos, 14 dessas campanhas com a finalidade de educar a população e angariar verba para a Liga.

Em 1929, com 72 anos de idade, foi comissionado para iniciar o Serviço de Profilaxia de Tuberculose do Estado de São Paulo e permaneceu neste cargo até sua aposentadoria.

Fundou, em 1935, um Dispensário Infantil e lá instalou o Serviço de Vacinação BCG.
                                                           
Em 1937, com 80 anos, inaugurou o “Abrigo–Hospitalar Clemente Ferreira” para tuberculosos pobres, com 60 leitos, na Avenida Jabaquara.

Em 1939, com 82 anos, foi condecorado como “Professor Honoris Causa” pela Escola Paulista de Medicina.

Além de ter fundado todos esses armamentos de luta contra a tuberculose, Clemente Ferreira, através da pena e da palavra (deixou escritos 45 discursos e conferencias e inúmeros artigos em jornais), mostrou que a tuberculose era uma doença social e que pouco valeriam as medidas curativas se não fossem adotadas medidas profiláticas higiênicas e de melhoria das condições de vida dos trabalhadores. Afirmou: “O problema da tuberculose é um problema médico e em mais alto grau social. Como problema 1/3 médico e 2/3 social, a peste branca necessita de uma profilaxia e de uma terapêutica”.

Faleceu no dia 6 de agosto de 1947, com 90 anos de idade, deixando uma legião enorme de beneficiados, uma escola de tisiólogos e o profundo reconhecimento dos brasileiros por sua grandiosa obra.

 São Paulo, 17 de fevereiro de 2007
Ana Margarida Furtado Arruda Rosemberg Médica Tisiologista e Mestranda em História pela PUC-SP

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